sexta-feira, 23 de maio de 2014

Arroz de Palma

"Arroz de Palma", de Francisco Azevedo (Porto Editora)

Sinopse:
A imigração portuguesa no Brasil, no séc. XX, retratada num romance sobre a saga de uma família em busca de um futuro melhor. Ao longo de cem anos acompanhamos as alegrias e tristezas, as discussões e as pazes, as separações e os que são felizes para sempre.
"Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema - principalmente no Natal e no Ano Novo. Pouco importa a qualidade da panela, fazer uma família exige coragem, devoção e paciência. Não é para qualquer um. Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir. Preferimos o desconforto do estômago vazio. Vêm a preguiça, a conhecida falta de imaginação sobre o que se vai comer e aquele fastio. Mas a vida é azeitona verde no palito - sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite. O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares."
Aproveite ao máximo. Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete.


Opinião:
Sendo uma pessoa muito ligada à família, este foi um livro que me tocou bastante. Passado numa outra época, os seus relacionamentos não são menos intensos pela separação do tempo. Se soubessem a quantidade de passagens que marquei com post-its até se riam.

A história não podia ser mais simples e a sinopse diz tudo. É curioso como não existem grandes reviravoltas na história desta família. Existem alguns momentos marcantes, mas não é daqueles enredos cheios de cenas com impacto. Simplesmente é a história de uma família e de como as pessoas mudam ao longo do tempo, como se separam, se zangam pelas coisas mais ridículas, fazem as pazes com uma facilidade arrepiante, e se juntam nos momentos de dor, mais depressa que nos momentos de alegria. Triste? Nem por isso! É a vida e esta família é suficientemente interessante, suficientemente humana para que até os momentos de tristeza sejam familiares para o leitor.
Confesso que não gostei, nem entendi, certas escolhas que o autor fez para a história e as suas personagens. Nomeadamente o facto de o António trair a mulher, numa noite, sem razão nenhuma, nem qualquer antecedente que levasse a justificar tal coisa. Isto irritou-me, confesso. Outra coisa que não entendi totalmente foi o facto de ser referido que, para o funeral da Tia Palma todos compareceram, mas para o funeral dos Pais não. A sério? Os pais! Todos que lêem o livro sabem que a Tia Palma é o pilar da família mas os pais foram bons para os filhos e não havia razão para eles não comparecerem todos à cerimónia. Enfim, eu isso não compreendi.

Em termos de personagens, confesso que não amei nenhuma, à excepção da Tia Palma (Já era de esperar, não), mas também não odiei nenhuma. Consegui foi relacionar-me com todas. Impressionante!
Simplesmente há algo de muito humano nestas pessoas, nesta família, e é fácil entrar neste 'prato'.

A escrita do autor é muito bela. Não me aborreceu nunca e, como já referi, foram dezenas as passagens que eu marquei ao longo do livro. Frases belíssimas que sussurraram ao meu íntimo e fizeram eco na minha consciência.No entanto também notei algumas frases mal conseguidas, que queriam ser poéticas mas acabaram por ser inconvenientes. Foram poucas, felizmente. Também não apreciei a descrição pormenorizada dos encontros sexuais do António. O primeiro, com a Isabel, fazia sentido, mas todos os outros, coma  Isabel, foram 'palha' e nada mais.

Em suma, Arroz de Palma não é um livro perfeito mas é um belo livro, que merece ser saboreado devagarinho e, acredito que, todos os que valorizam a família conseguirão apreciar.

Nota: Esta foi a leitura de Novembro/Dezembro 2013 do Clube de Leitura de Braga.

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