quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Orbias – As Guerreiras da Deusa

“Orbias – As Guerreiras da Deusa (Orbias 1)“, de Fábio Ventura (Casa das Letras)
Leitura conjunta do My imaginarium

Sinopse:
Quem disse que as raparigas não conseguiam ser sensuais e fortes ao mesmo tempo?
Noemi é fã de cinema e séries de acção e aventura. Mas nunca imaginou que ela própria faria o papel de uma dessas personagens que de um momento para o outro vêem a sua vida normal dá uma volta de 180 graus. De uma forma pouco ortodoxa, descobre que é um Anjo, uma Guerreira ancestral renascida e que, numa dimensão paralela à da Terra, existe um mundo mágico regido por uma Deusa – Orbias.
Mas Noemi não terá apenas de lidar com os seus novos poderes e responsabilidades. Terá também de se confrontar com os perigos e emoções aos quais não estava habituada, especialmente um sentimento em relação a Sebastian, um orbiano sedutor… Conseguirá ela superar a sua fragilidade e conflitos interiores para salvar os dois mundos da destruição?

Opinião:

A narrativa começa de forma interessante e no compasso certo. Ao princípio, achei que a Noemi era (estranhamente) parecida comigo, uma ideia que se foi dissipando rapidamente. Começamos com duas raparigas a serem atacadas, praticamente em simultâneo, por duas figuras misteriosas. No meio desse ataque, elas transformam-se, uma em Anjo e outra em Sereia, e é isto que dá início às aventuras das guerreiras. E os problemas começam aqui. As lutas parecem estranhas e pouco “urgentes” e depois de ouvirem as explicações sobre “Orbias”, elas aceitam tudo demasiado bem, demasiado depresa. As dúvidas que têm, dissipam-se demasiado rápido e isso pareceu-me falso, especialmente tendo em conta que nenhuma das duas é especialmente corajosa.
E já agora, não é coincidência a mais que, num mundo tão vasto como o nosso, e de entre 6+4 pessoas especiais 3 delas estejam na mesma cidade? Já sem falar da Riddel e do Richart, que segundo me parece também estavam na mesma cidade. Isso significaria que, dos 10, 5 estavam na mesma cidade que a sede dos inimigos. Ah! E já me esquecia da Eva. Já lá vão 6. Muita coincidência. Isto em contraste com as viagens que elas fizeram em Orbias para descobrir os restantes, parece demasiada coincidência.
Outra das coisas que me deixou algo “irritada” foi o facto de os humanos, na lenda, serem descritos como vis, levados pela ganância, enquanto os orbianos eram bons, puros e só queriam “paz”. Não acredito nesse tipo de divisões e ainda bem que no resto do livro vemos que ambos povos são ganânciosos.

Pontos fortes do livro:
- As descrições de “Orbias” e mesmo da Terra. Quase que conseguimos ver o cenário, as paisagens, as pessoas.
- As personagens secundárias, que as guerreiras encontram nas suas viagens. A Marzanna, a Senhora do Tempo, a Imperatriz dos mares, essas personagens acabam por ficar na memória, mas é estranho que pareçam mais interessantes que as principais.
- Os trocadilhos, os jogos mentais e as reviravoltas que vão ocurrendo são bem aproveitados, especialmente o facto de nunca sabermos ao certo quem são os inimigos e os aliados. Também gostei da ideia da “caixa de ferro”, que foi muito bem aproveitada.
- Toda a invenção do mundo Orbiano, do Deus e da Deusa, da magia e das lendas, foi bem aproveitada e bem exposta aos leitores.

A escrita das primeiras 100 páginas foi mais juvenil, mas a partir daí amadureceu e tornou-se bastante agradável, só que no final do livro, voltou a ficar pior que no início. Sem genica, sem suspense, sem nada que tornasse a batalha final especialmente memorável. Poderia ter sido um momento alto, mas acabou por ser apenas normal.
Gostei muito do “pós-guerra”, que é como quem diz, gostei da forma como amarraram as pontas da história e como a Noemi reagiu. Sofreu, e isso viu-se, mas soube erguer a cabeça e seguir em frente, algo de louvar na personagem dela, que evoluiu bastante ao longo da narrativa.

E depois vieram aquelas últimas páginas.
Sinceramente, acho que eram totalmente desnecessárias.
Parece que só lá estão, para atiçar a curiosidade quanto ao próximo volume, mas a ideia que me dá é que, o autor escreveu isto como um livro único, e depois chegou ao fim, com tudo prontinho, e alguém lhe disse “Faz uma sequela” e ele, de forma a arranjar forma de justificar outro livro, escreveu aquele capítulo, que é surpreende, verdade!, mas que parece falso e totalmente desnecessário.
Na minha humilde opinião, este livro funcionaria perfeitamente sozinho, e embora até goste da nova Noemi (tenho umas boas teorias sobre o que se passou, mas não vou revelar) ela não está ali a fazer nada.

Em suma, gostei da história, do mundo, das crenças, do uso inteligente de “personalidades” portuguesas na história (muito subtil), das personagens, que agiam todas de forma infantil (não posso olhar para elas como adultas), das reviravoltas narrativas e da escrita (na maioria do tempo), mas, não gostei do facto de as personagens, supostamente adultas, serem imaturas; das lutas que, na sua maioria, não tem adrenalina, dos relacionamentos amorosos que pareceram algo forçados (embora no final já estivessem mais coesos), e do final, que era desnecessário.

É uma leitura interessante e compulsiva, mas que peca por falta de maturidade, tanto nas personagens, como nos relacionamentos. Nem os vilões se salvaram.

Noutro ponto, só depois de ler as primeiras 100 páginas é que percebi quão certeiro está o book trailer do livro. Excelente interpretação!


Primeiramente publicado no Caneta, Papel e Lápis (2009/12/16).

1 comentário:

  1. Olá. Já há algum tempo que tenho curiosidade sobre este livro, mas a verdade é que ainda não o adquiri por estar hesitante se haverei de gostar ou não. Claro que é bom ver os Portugueses a interessarem-se pela escrita, e principalmente tão novos, e num género ainda muito pouco explorado pelos autores lusitanos - dos quais destaco Sandra Carvalho e Filipe Faria.

    Bjs e boas leituras ;)

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