quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O Deus das Moscas

“Lord of the flies” de William Golding, editado em Portugal como "O Deus das moscas", pelas Publicações Dom Quixote,


Sinopse:
Um avião despenha-se numa ilha deserta, e os únicos sobreviventes são um grupo de rapazes. Inicialmente, desfrutando da liberdade total e festejando a ausência de adultos, unem forças, cooperando na procura de alimentos, na construção de abrigos e na manutenção de sinais de fogo. A supervisioná-los está Ralph, um jovem ponderado, e o seu amigo gorducho e esperto, Piggy. Apesar de Ralph tentar impor a ordem e delegar responsabilidades, muitos dos rapazes preferem celebrar a ausência de adultos nadando, brincando ou caçando a grande população de porcos selvagens que habita a ilha. O mais feroz adversário de Ralph é Jack, o líder dos caçadores, que consegue arrastar consigo a maioria dos rapazes. No entanto, à medida que o tempo passa, o frágil sentido de ordem desmorona-se. Os seus medos alcançam um significado sinistro e primitivo, até Ralph descobrir que ele e Piggy se tornaram nos alvos de caça dos restantes rapazes, embriagados pela sensação aparente de poder.


Opinião:

Este e um daqueles clássicos, do qual já tanto tinha ouvido falar que não resisti a lê-lo.
Fiz-lo em Inglês, mas talvez no futuro, caso tenha oportunidade, o volte a ler, em Português. Não tive grandes dificuldades a ler, mas aquelas falas mais rústicas deixaram-me de sobrancelha erguida algumas vezes.
Em frente.
“Lord of the flies” (O Deus das moscas) é uma história realisticamente assustadora. Dá que pensar pois nós sempre queremos acreditar que as crianças são inocentes e por isso incapazes das mesmas crueldades que os adultos. Bem, pelo menos é nisso que queremos acreditar, mas a realidade tem tendência a esbofetear-nos com força nestes campos.
Este livro começa com um grupo de crianças, desde os muito pequeninos aos mais crescidos, que se vêem sós numa ilha deserta, sem meios de contactarem com o exterior, sem comida, bebida, ou outra qualquer coisa que lhes recorde a civilização. Adultos, não existem, e por isso Ralph é nomeado chefe e decide que o mais importante é manter uma fogueira acesa, para poderem ser salvos, e construir cabanas, para estarem protegidos do frio e dos animais da ilha.
As coisas não começam bem porque a maior fasquia dos “big-luns” (as crianças mais velhas) passam os dias a caçar. Um deles, Jack, fica completamente obcecado por cortar a garganta a um porco. Só fala nisso e é graças a ele e ao seu claro ódio por Ralph, que os problemas começam a surgir e as desavenças no grupo começam a ocorrer.
Tudo piora quando eles não mantêm o fogo a arder e por causa disso eles não são avistados por um navio que passava ali perto.
Acidentes, mal entendidos, medos do desconhecido, histórias criadas pelos pesadelos e pura loucura, conduzirão grande parte das crianças a um estado de selvajaria e malícia, sem retorno possível.
E devem reparar que não é comum eu fazer um resumo da história, mas neste caso acho que não há nada melhor.
“Lord of the flies” é assustadoramente realista e deixa-nos com um nó no estômago porque sabemos que em condições assim, com personagens assim, o desfecho não poderia ser outro.
Tudo flui de forma assustadoramente real e embora a principio seja um pouco … lenta, a partir do meio o livro não dá descanso.
Em suma, uma excelente leitura, que descreve o que de pior há em nós, mas também o melhor e como a amizade pode surgir nos mesmos instantes em que surge uma rivalidade que consome até chegar a extremos.
Ah! E numa nota. O Piggy foi a melhor personagem de todas. Mesmo sendo rebaixado por todos, insultado e posto de parte, ele era quem tinha mais juízo, mais racionalidade e foi quem manteve a sanidade de algumas personagens intacta até ao fim. E para além disto ele foi um excelente amigo e companheiro.
O Ralph também foi uma excelente personagem. Parecia forte desde o início, mas mostrou que também não passava de uma criança e que tinha muitos receios. Ele teve um desenvolvimento soberbo e embora no início o detestasse um pouco, ao longo da narrativa fui compreendendo melhor e melhor.
Aliás, as personagens são mesmo o ponto forte da história, e menos não seria de esperar.
Só como um à parte … Quando surgiu pela primeira vez aquela dança do “Kill the pig! Spill his blood! Cut his throat!”, eu já sabia o que aí vinha. Pobrezinho …

Primeiramente publicado no Caneta, Papel e Lápis (2009/08/26).


Nota.: A primeira coisa que eu pensei quando no texto surgiu a “pintura no rosto” foi “Dragon Head”, um excelente manga. Aposto que essa parte do manga foi baseado (ou em homenagem) no livro.

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